terça-feira, julho 07, 2009

a gata,o sofá e o bordado

Queria pintar uma folha
Mas para isso não tenho tintas
Nem se quer sinto palavras.

Vi textos pela manhã inteira.
Em meu café os grãos de açúcar
Eram como letras mudas que tentavam
Pular para fora da xícara a espera de socorro.

Passei para o pão
Mastiguei-o como um mendigo
Enfurecido,
Ansioso para a próxima migalha,

Comi rápido.
Como aquela água que borbulhava na garrafa,
Estava minha cabeça.
Agora, apenas os farelos em meu prato
E alguns no chão - justificados pela minha falta de cordenação
Ou como diria minha mãe,pela minha falta de educação.

Levanto da cadeira e sem pensar em mais nada
Saio correndo pra pular no sofá até ouvir a gata da minha avó
dá o ar de sua graça.

A gata miava estridentemente
É...
Eu acabava de pisar em seu rabo.

Fiz carinho em seu pescoço até acalmá-la.
Logo adiante deixei-a de lado e como queria
segui para o sofá.

Pelas mangas do meu casaco e pelo bordado do meu vestido
escorregavam algumas das poucas palavras que me restavam pelo chão.

“Mais um empecilho”, pensava.

Voltei pra trás, catei as palavras espalhadas
- agora, já estavam molhadas das lambidas da gata
Que as fuçava querendo talvez descobrir se tais palavras eram alguma espécie de alimento ou uma nova linha de barbante –

Agora que consigo chegar no bendito sofá, não sei bem o que faço com essas palavras.
Algumas estão gritando e outras estão bem pegajosas da baba da maluca da gata, então bordei essas mais insistentes, saindo uma coisa mais ou menos assim

“Me jogue em sua contramão
Não importa em que tráfego.
Em qualquer direção.

Ninguém irá saber

Minhas palavras estarão em branco
Meus beijos serão confissão.

Ninguém irá saber

Entre tantos carros
Entre tantas ruas
Em sua multidão
ninguém irá nos reconhecer

Ninguém irá saber.”

Antes de terminar, a gata puxou o que tinha bordado e escondeu,
Escondeu de mim
Não sei, mas talvez tenha rasgado esses versos que insistiam em não serem bordados.

3 comentários:

lapis nos olhos disse...

po, muito legal o poema ...
e dentro do poema, o poema ...
se a gata levou, a ideia ficou
nao deixe q a contramão da vida nao permita que vc realize os seus "beijos", sei lá, ...
poema de bruxinha ... kkkkkk
enfim, mesmo que a gata tenha rasgado o poema, escrito com tanta dificuldade, ele ficou bordado em algum canto do seu coraçao.
beijo, se cuida.

Estêvão dos Anjos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Estêvão dos Anjos disse...

gostei mais do poema do poema, sendo assim gostei de tudo que ficou bordado e o que ficou enrrolado no gato

ps. se acha