sábado, dezembro 13, 2008

Desafinando II

Desculpa-me
Por meu verso sujo,
Minhas palavras se embriagaram
Nesta madrugada.
Todos os acentos
Deslizaram do papel
E só restou o rabisco.
Rabisco meu
Sem pausa ou interrogações
Que transpassa a lente dos seus óculos
A onda dos seus cachos
Rabisco meu
Falho e sujo
Que sobra nesse papel amassado
Embrulhando o que resta de sóbrio
No meu estranho jeito
De te dizer que és como um baixo
Preenchendo em som grave
Os vazios da minha música
Mal tocada.

segunda-feira, novembro 10, 2008

sent(ir)me


Sinto-me
Sem imperativo
subjuntivo
Pretérito sem efeito
Artigo indefinido

Sinto-me
Sujeito simples
Pronome desconhecido
Sílaba sem tom
Palavra sem tônica

Sinto-me
Verbo sem regência
Erro gramatical
Qualquer coisa
Fora de morfologia
Sintaxe ou grafia

Sinto-me
Sem parênteses
Sem frases ou acentos

Sinto-me texto rasgado
Verso riscado.

Sinto por sentir-me semivogal
Em minha tônica final

segunda-feira, outubro 27, 2008

meu amigo,

Passei o dia contando-me pelos ponteiros
Ponteei-me e perdi as contas
Já tarde acabo de achá-las
Empoeiradas,quase desbotadas.
Começam logo a gastar da própria cor
Transcrevendo-me teus gostos desgastados.

Na grafia grafitavam a ponta do teu lápis
Que agora só permanece quebrado
Me quebrando junto ao teu compasso
Pedaço.
Pedaço teu sem espaço
Para mim
Ou desgraçados.

Amassei a grafia
Conjuguei as contas
Procurei teus gostos
Bati em tua porta
Não tinha chave,não tinha nada.

Fui embora...

mas
uma voz torta
Chamou
Forcei-me a ser surda
Mas ouvi até as vírgulas
e saliva.

Eram teus gostos
Diziam-me que foi levado
pelo beijo
pelo desejo
da beleza de uma moça.

feliz
fui embora...

agora
uma voz mansa
Me afogava
Talvez era ela- sua Maria-
Que tanto falava
Mas tinha osso,um pouco de carne
sem milagres
sem Jesus
sem fé
carregava apenas tua cruz.

Escutei as poucas palavras
Dizia-me o que teus gostos falavam
Mas contou-me sobre a destreza
O crime
A desgraça
Da moça,daquela beleza.

Deu-me teu novo endereço
meu caro amigo
e agora
diante de ti
olho nos teus olhos
olhos distantes
leio teus versos
versos destoantes
aperto tuas mãos
mãos frias
sem forças
inebriantes.

vejo ela a te fazer companhia
vejo dentro do teu corpo
órgãos
na água que come
na comida que bebe
nas palavras que vomita.

antes de vir
me alertaram
alguns me disseram que tal moça
se chamava inteligência
outras,doença
poucas, doçura
mas Maria disse-me
que seu verdadeiro nome
era Loucura.

segunda-feira, setembro 15, 2008

cala-frio

Apago esse poema e reescrevo
Meu único verso anda demorado
Desacelerado.
Pinto a primeira palavra
Mas ela se desfaz
Pulo para próxima
Ela boceja e volta a dormir.
Insisto na terceira
Essa desatina e foge
Sem rumo
Sem espera
Foge da ponta da caneta
Do papel
De mim.
Cansada,espero
Espero que esse verso me ligue
Espero uma única chamada
Mas ele se demora
Talvez tenha perdido meu número
Endereço
Meu apreço.
Esqueço de uma possível lembrança
Jogo os papéis e a caneta no lixo.
Surpreendentemente,o telefone chama
É ele,meu verso
Anuncia com voz mansa
Que não achava palavra certa
Nem métrica
Então se rendeu ao clichê
Dizendo-me um tal de eu te amo.

sexta-feira, agosto 29, 2008

teu canibal codinome

Minha antropofagia
Minha vida vadia
Que tanto sacia
Tua carne
Tua farsa
Minha faca
com teu sangue

Essa caça que tanto consome
Tua pele extinta
Essa presa tardia
Tua guitarra -agora sem garra-
teu nome.

Como predador
Quero tua dor
Nosso odor
Tua mais rica flor
Em fervor.

Como presa
Quero ser tua comida
Quero tuas mordidas
Quero ser tua fome
íntimo e codinome.

quinta-feira, agosto 28, 2008

Escambo

-Dê-me um acorde
Não mais que um
Porém o completo.
Peço-te os três tons e meio
E mais nenhuma nota
E mais nenhum acorde.
Mas peço - ti
O mais completo.

-Dou-te o acorde que me pede
Em troca recebo a chave
Para dedilhar as primeiras cordas
Da fechadura dessa escuridão
Mas não prometo te proteger
Dessa imensidão.

-Quebrei a chave em notas
Só poderá dedilhar
Se calcular o tempo
Da conjugação
De cada palavra morta.


-então,
Prossigo sem o semitom
Semeando um único tom
Desse estranho dom.
Adeus!

julho 2007

quinta-feira, agosto 14, 2008

sexta-feira, agosto 08, 2008

noticiário

Sábado me socou
Obrigou-me a transar-se ao medo
Desgrudar as lembranças dos lençóis
Arrancar o perfume das roupas
Vomitar o desejo na privada
Sentir-se desacompanhada para sentir de novo
o beijo do novo.

A chuva chegou
A lua gemeu
E o amor não agüentou
Correu tangencialmente,
Despediu-se de mim
E me despiu.

Nua
Sem chaves
Ou lembranças
Traguei sussurros
Tossi os toques
Embriaguei-me com
Novos versos
Outras vozes
Outro acorde.

Sábado se findava
A carne salpicava,
Pés mudos
Corpo sujo.

Domingo me acordava
Minha cabeça jogada na calçada
Meu corpo na almofada,
Ligo a TV
E o noticiário alerta um grande acidente
Um atropelamento.

O carro não capotou
Nem atingiu postes
Nem a eletricidade
Continua tudo intacto
Apenas um morto.

Testemunhas dizem que vítima foi culpada
Tinha instinto suicida
Estava com comportamento alterado
Não queria ouvir nada
Se jogou intensamente na frente do carro.


Desligo a TV
Procuro minha cabeça na calçada
Configuro-a novamente
E o atropelado me aparece
Estraçalhado, sem veias e artérias.

Era ele,
Dava-me o último adeus
Um beijo na testa
E seu coração parava de pulsar.

voltei para TV
e outro canal anunciava o mesmo acidente
“morre na madrugada desse sábado,o amor,vítima de atropelamento”.

domingo, agosto 03, 2008

estômago de plástico

Gritei em ângulo agudo
Ceguei os tímpanos da paixão
Voei em ângulo rasante
Senti meu corpo estraçalhar-se na contramão.
Cambaleando, cruzei a avenida principal
Lojas decoradas,pessoas mau tratadas.

Com fome,
Entreguei-me ao lixo mais próximo
Comi de beijos incompletos a amor estragado.
Comidas doces, recebiam o nome de Verdade
Salgadas,o nome era Mentira
Amargas,para quem não sabia ler,
Dizia que era Saudade.

Nutri-me meses com comidas doces e amargas.
Completando o grau de obesidade,
O fabricador chega repentinamente
Esclarece meu engano.

Agora
comidas doces e amargas se chamavam Ilusão
E as salgadas,era a tal verdade
Sem elementos fabricados ou temperos de plástico,
As quais nunca provei.

Even In The Quietest Moments - Supertramp


Even in the quietest moments

I wish I knew

What I had to do

And even though the sun is shining

Well I feel the rain

Here it comes again, dear


And even when you showed me

My heart was out of tune

For there's a shadow of doubt

That's not letting me find you too soon


The music that you gave me

The language of my soul

Oh Lord, I want to be with you

Won't you let me come in from the cold?


And even though the stars are listening

And the ocean's deep

I just go to sleep

And then I create the silent movie

You become the star

Is that what you are, dear?


Your whisper tells a secret

Your laughter brings me joy

And a wonder of feeling

I'm Nature's own little boy

But still the tears keep falling

They're raining from the sky

Well there's a lot of me got to go under

Before I get high


Don't you let the sun disappear

Don't you let the sun disappear

Don't you let the sun be leaving

No, you can't be leaving my life

Say that you won't be leaving my life

Say that you won't be leaving my life

Say won't you please, stay won't you please

Say won't you please, stay won't you please

Lord, won't you come and get into my life

Lord, won't you come and get into my life

Say won't you please, stay won't you please

Say won't you please, stay won't you please

Oh Lord, don't go


And even when the song is over

Where have I been

Was it just a dream?

And though your door is always open

Where do I begin

May I please come in, dear?

sexta-feira, junho 27, 2008

Desafinando

E se choro
É porque me tens enlatada
Configurada em uma pequena caixa
Trancafiada em uma ilha devastada.

E se sofro
É porque ainda tenho teu gosto amargo nos lábios
Teu cansaço a me perfurar as vértebras
Teu perfume sem frasco em minhas vísceras
Impregnado em meu corpo
Suor, saliva.

Mudo os rumos
Mas voltam-se as calçadas sujas de nós dois,
Os carros apressados e tua brevidade
As ruas escuras e teu cuidado
Teu desenho, teu relapso.

sábado, junho 07, 2008

Para ninguém

Pelas ruas
Esbarro em alguém
Na faixa de pedestres
Corro rápido para ninguém
No ônibus lotado
Segurada por outros
Estou aquém.

Logo cedo
os carros a colidir
as paralelas a me nutrir
e o trânsito esmagador
atropelando minhas artérias
no centro de um cruzamento.

No caminho de casa
Engulo ruas distorcidas,
Placas sem siglas.
Multiplico minhas dúvidas
Subtraindo
A vontade de chegar.

E se chego
Choro meu grito desafinado das ruas
Exponho minhas artérias feridas nuas
Para olhos e ouvidos
De ninguém.

sábado, maio 31, 2008

Discurso direto

Deveria escrever talvez com palavras mais arquitetadas
mas me faltam na língua,quando na verdade
quero te surrar com uma porrada de raiva.
Te digo meu belo príncipe
Que não há locução adjetiva mais bela que um simples filho da puta
Que não há reza,nem macumba mais crédulas que um vai se fuder
Que nem a modesta e intocáveis semântica,sintaxe impõem calma em
Meu pequeno jogo de palavras.

A verdade é que meu grito se cansou de ser abafado
Minha poesia se desgasta quando pra sua ilustre pessoa
E esgotada vou ficando.

Cansei dos leros leros e acasos
Do que é possível ou impossível
No peito de uma adolescente insensata
Pulsa tua frieza e mais nenhuma despedida.

quinta-feira, maio 29, 2008

wind of station

In my mind sand is exploding,
Slowly
Close my broken heart
as whom already tires of believe.

"no one is guilty in this game", he told me
But those who suffer know
This is just a big sugarcoated window of words

I don’t want you to see me as a child dreamer
I don´t want you pray to
a deceived daughter
just feel my song different from yours.

Today
you eat what they give
but
don´t wish the same for me!

domingo, maio 11, 2008

Lúcida

te vi partir,
a cidade não parou
os sinais continuaram sendo vermelho
o sol nascendo
os pobres empobrecendo.

as ruas não foram interditadas
nem se fez
um minuto de silêncio
o sino não tocou
o país ainda não fala bom dia
os postes continuam por beijar
a solidão da rua
com luzes de melancolia.

e então tudo o que tenho pra dizer
é que os dias estão indo
a chuva nos desvaindo
minhas mãos sem as tuas
meu corpo sem abraços
meus nervos sem aço.

Sobre túmulos e espinhos
Distância e passos vazios
Te falo frágil,sem lágrimas
Que sobram flores e rosas
não mais regadas.

terça-feira, maio 06, 2008

Apenas não estranhe

Tive que te escrever as pressas
uma carta monossilábica,
se chegar em tuas mãos
não estranhe se as palavras não falarem nada
se as reticências tomarem lugar das letras
as vírgulas distanciarem minhas dúvidas
de tuas certezas.
Se a caneta estiver falha
Se a ausência de verbos
Substituírem minha
Passada fala
Se o papel estiver amassado
E branco.

segunda-feira, abril 28, 2008

Tenho guerras para lutar
mas não tenho arma
tenho ferimentos para cicatrizar
mas o sangue não coagula.

com o silêncio,atiro uma
duas
três balas
e nada é atingido.

caio em trincheiras
os ratos me massageiam
durmo pelas beiras
os cadáveres chamam por meu nome
queimo-me na fogueira
assustado tento subir.

Fraquejando
desejo apenas ter fome
fome que alimenta
a dos miseráveis
dos desvendáveis.

Tu que não crês
Aclama por deus
Eu que sou louco
Pedi permissão.

Os dias vão passando
A guerra pulsando
O zinco fritando
as ruas nos chamando:
-Tem alguém por ai?

sexta-feira, abril 25, 2008

era uma vez...

Os contos encantam as fadas
Reinam no tempo das mágoas
Cinderelas adormecem
Brancas de neve padecem
Enquanto Alice não se submete

Príncipes agonizados
Chicoteiam os maus tratados
Cavalos andam sobre os patos
Os atos são para os censurados.

Dizem que uma vez se era
Não existe mais sol nem primavera
Só as belas
Só as celas

Alice flutua na rotina do saber
Escala as montanhas até enlouquecer
Vai voando sobre o céu
Engolindo quem for réu


Dizem que uma vez se era...

sábado, abril 05, 2008

Aquela

Se a verdade que é dita,
Alimenta a fome
Mata o homem.
Prefiro a mentira!

Aquela
Que os padres condenam
Como atentado de Lúcifer.

Aquela
Que a faxineira a usa
Em seus dias de desmaio.

Aquela
Que o presidente
Desgarra em seus discursos
Como problema ás suas teses de teatro.

Aquela
Que os pais a temem
Quando seus filhos começam a voar.

Aquela
Que a religião se contrapõe
Suspendendo suas palavras de doutrinação.

Aquela
Que os capangas não enxergam
Para sobreviver da subordinação.

Aquela
Que apenas os ditos como sonhadores
A tem como verdade!
Das fumaças saia dinheiro
Mais o ctrl alt
E sua tecnologia.

Nas calçadas as cóleras e seus deletes
As putas e seus versos
Os poetas e seus infernos

Nas ruas não há meninos
Nos meninos não há asfalto
No fundo da garrafa
O odor da rosa à essência da cor
Da cola.

Vi silva,vi batista
Vi vilela,vi calheiros
Na protuberância do circo brasileiro

Do sertão ao cerrado
Da caatinga ao extremo da América de trapos
Os rebanhos emergem
Os campos adormecem
Enquanto o império nos converte.

Marco o ponto
volto para casa
volto para o aconchego de minha mulher sagrada
Respiro,penso
Logo sento à mesa no lamento

Nutro a multidão
vou dormir liso
Com apenas o número
De minha identificação.

01-12-07

segunda-feira, março 31, 2008

Amor covarde

Esquece esse coração imotus
Dono de cronômetros
De rígidos dinamômetros.
Calabar dos que sentem
Monalisa fugitiva
De quem me sente.

Esquece dos abalos
Dos abadalos.
Dos mendigos limpos
Dos cobradores ricos
Das domésticas fracas
Desse peito contido.

Esquece,
A estética falha
Da imaturidade quadrada
Da falta do que dizer
Da rima sem vogal,
Do medo estridente
De uma semivogal.

na verdade,
não esquece.

quarta-feira, março 26, 2008

virtual

como dita a regra
a paixão foi se perdendo.

a agonia do desejo
já não desgarra o coração
outrora,carnavalesco

as músicas já não sooam
como uma valsa a dois

as belas
simples frases
não mais encantam
e as emoções,mais uma vez
são amenizadas e jogadas
na pasta dos documentos da memória

Clandestina

Como uma garganta entalada
Sentir esse tal de sentimento
Entalar-me por inteiro.
Olhei de um lado ao outro
Mas só mirei o que te formava.

Como quem foge da saudade
Preferir meu silêncio
A descrever a desgraçada verdade.

Me privei
Fugi de mim
Tentei até prostituir
O que sinto pelo que
Nada há de se sentir.

Fui em Himalaia
Contornei Guatemala
Quebrei as pontes que traziam-me
Para mim
Retorci os automóveis
Minhas pernas e estradas.

Feliz por não me achar
Descobrir um novo país
Passei pelas divisas clandestinamente.
Tinham poucas companhias
-talvez apenas duas-
As quais não deixaram-me retornar.

Peguei carona em um caminhão
Velho,abandonado
Quase parado.

Sem perceber,
Voltei ao início.
No primeiro outdoor
Tinha escrito minhas palavras
Em tua grafia,
Pedi pra voltar
Mas era tarde
Já tinham reforçado a segurança de nossas divisas
E por aqui,em teu país,fiquei
clandestinamente.

16-03-08

segunda-feira, março 24, 2008

lições de sala

A menina ficou sem voz tentando explicar a professora que Nada sempre será núcleo do sujeito

terça-feira, março 11, 2008

olhando de olhos abertos

confesso que por segundos
acreditei nas métricas
perfeitas de tuas palavras
nas rimas compostas da tua voz
no livre decassílabo-ou não-
de nós
na eloquência noturna
de tuas mãos
no verso mais bandido
da tua boca.

ontem se foi
amanhã talvez será
mas tu me faz acreditar
que não és amante
nem senhor
mendigo ou doutor
apenas poeta

domingo, março 09, 2008

Promoção ré-lâmpago

Estou a um passo do tráfico
Venderei todos meus vícios
E ilusões
Minhas drogas são das baratas
Minha mochila está carregada
Trago fardos a pó
Amores enrolados em sedas
Encantamento no chá
E um pouco de inocência
Transformada em nicotina

Quem irá comprá-los
Quem irá tragá-los
E queima-los para mim?

terça-feira, março 04, 2008

síntese

enfiando-me guela a baixo
um buquê de rosas,
os espinhos vomitam a beleza na descarga....

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

amargo sabor doce

o café acaba mais uma vez logo cedo.
a língua queimada
sente o abraço da cafeína,
a boca anestesiada
sabe que existe açúcar,
mas antes de mais uma colher doce
o sabor amargo
se transporta por entre os dentes
dança para a gengiva
cospe na saliva
mostra as nádegas ao céu da boca
e estupra novamente
meu gosto,minha timidez,minha vontade
minha língua.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Lado b do bar

De um lado ao outro
As gargalhadas em fúria,
A fumaça dos cigarros
Cheirando o ópio dos fadigados
Os berros e juras
Dos alcoolizados.

De um lado ao outro
A música suja
Se entrelaçando as falas
Dos desgraçados,
Os olhares em abstinência de sinceridade,
A última gota de cachaça
Para mais um segredo assassinado.

De um lado ao outro
A conta encerrada
E as vidas voltando-se
Para o sofá furado
Da ressaca.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

rotina

..............................................................................Acordo
..........................................................cinco minutos
.................................................................Pra levantar
.............................................................quatro
.............................................Pra se lavar
..........................................três
.....................Pra se trocar
.................dois
Pra comer
um
Pra nos
s
a
l
v
ar
.

domingo, fevereiro 17, 2008

...

Hoje,sentir
Aquilo que costumo chamar
De num sei o que.
Hoje,deslizei
Te cantei meus versos
E dei rasteira em minha razão.
Hoje,revivi
nossas promessas
E jogos infantis
A beira do mar dos sonhos e das ilusões.
Hoje,ouvir teu blues
Mais excêntrico
mais improvisado e desajeitado
Que meu velho jazz inofensivo.
Hoje,batuquei minhas feridas
Quase mortas
E te fiz culpada
Da falta de cicatrização.
Hoje,rasguei minhas gravatas
E te pus no ápice de minha gola.
Hoje recriei uma nova palestina
Em teu olhar
Te fiz judia e eu,um mero cristão.
Hoje Fui dormir em shangrila
E Amanhã
acordei sem teus beijos
Bombardeado em Bagdá.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Mesmo que para te sentir
Tenha que entregar meus órgãos
Tenha que sacrificar meus óvulos
Meu prazer

Sinto contigo meu ventre pulsar
Minha origem gritar
Minha estação desabrochar
O peso de ser o que sou e o que ainda poderei ser.

De modo explícito
Te surro com palavras
Desejo nunca ter te conhecido
Prometo até,te destruir,
Mas logo fico sem forças
Pois em te
Encontro o ápice da delicadeza e da brutalidade
Se fundirem a me tornar mulher.

*ode a menstruação.

conversas com emi

quarta-feira, janeiro 30, 2008

ao ler mulheres desiludidas,simone de beauvoir

Quando não podia mais sentir
O amor,aquele deus mendigo
Me configurou
Mexeu em minhas cores
Em meus corcovados
Arrancou-me do preto e branco
Nocauteou-me para a sépia.

Como se não fosse pouco
Caçoou dos meus desenhos e anseios
Das minhas telas e músicas
Das minhas curas e loucuras
Da minha memória.

Me tomou em um só gole
Deixando-me em uma gota
Me tragou como um cigarro rasgante barato
Me surrou no meio fio
De uma periferia mórbida

E quando não tive mais força
Ouvi dizer por ai
Que o amor é lindo.

domingo, janeiro 27, 2008

Para eles

Of........u........s.........c a n t e..........vai ficando
A tela em creolina

...........A tinta a gasolina
..........................Os p............s
..........................................a s.o.s ................em surdina

Os planos para improvisar.



A simbiose humano máquina
Carne aço

...............................e........
...........................t..........
.........................n .........s
.....................e..................
.................d......................t
.............i.............................
...........s................................a
......e........................................
....r...........................................d
P...................................................o
.........Proletário agonizado............

....................................................................................p
.....................................................................ra....../........a
................................................................t............/....ssa
Em cordas e lamentos............................l......../............d
Os olhares ...................................u................./..................os



Em livros e gritos
Os turvos pensamentos
Em surtos e alienação
Nossas pautas arrastadas
surradas
Consideradas como
Simples acaso da utopia e da ilusão.

terça-feira, janeiro 22, 2008

Planejamento urbano

O lúcido e o translúcido,o papel e a folha riscada,são como fadas estupradas.

Na cidade as coisas são assim,de modo transfigurado ao fantasiado,os gatos são espertos e os cachorros são os domesticados,as guitarras são ouvidas e os baixos,simplesmente,descartados.
O combustível que engolimos,a velha que dá o bom dia sem ouvir retorno,o porteiro que ouve o programa policial as seis da manhã,até o morador desconhecido do teu prédio,que obrigatoriamente te faz companhia no elevador,são todos rabiscos de um projeto qualquer do arquiteto urbano.

sábado, janeiro 19, 2008

remissivo

Volto a te escrever
Amaciando o papel com a ponta fina do lápis
Recriando as palavras
Em suas formas mil.

Volto a te ler
Nos bares pelas esquinas
Nos olhos dos drogados e embriagados
No mergulho dos naufragados e viciados.

Volto a te ver
Nos versos velhos
Nas músicas rasgadas
Nos estudantes revoltados
Nas domésticas enfadadas.

Perguntas pelos cometas
Te respondem as estrelas
Que voltei
Mas já estou de partida.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Son-ância

Sou a mais íntima musica externa
Que rasga os lábios
De quem se atreve cantar.
Sou a poesia morta
Que com o pessoal comum milagre
Reencarna modificando
Os sentidos de seus versos.
Sou a paz de minha alma contida na guerra
De meu corpo.
Sou o ritmo do tempo
Que envolve os acordes
Do perfume dedilhado das flores.
Sou todas as pessoas conjugadas no tempo
Sou o tempo conjugado
Nas pessoas.
Sou morte para ser vida
Sou areia para ser castelo
Sou tristeza para ser alegria
Sou ação para ser conclusão.
Sou antítese em plena personificação.