sexta-feira, junho 27, 2008

Desafinando

E se choro
É porque me tens enlatada
Configurada em uma pequena caixa
Trancafiada em uma ilha devastada.

E se sofro
É porque ainda tenho teu gosto amargo nos lábios
Teu cansaço a me perfurar as vértebras
Teu perfume sem frasco em minhas vísceras
Impregnado em meu corpo
Suor, saliva.

Mudo os rumos
Mas voltam-se as calçadas sujas de nós dois,
Os carros apressados e tua brevidade
As ruas escuras e teu cuidado
Teu desenho, teu relapso.

sábado, junho 07, 2008

Para ninguém

Pelas ruas
Esbarro em alguém
Na faixa de pedestres
Corro rápido para ninguém
No ônibus lotado
Segurada por outros
Estou aquém.

Logo cedo
os carros a colidir
as paralelas a me nutrir
e o trânsito esmagador
atropelando minhas artérias
no centro de um cruzamento.

No caminho de casa
Engulo ruas distorcidas,
Placas sem siglas.
Multiplico minhas dúvidas
Subtraindo
A vontade de chegar.

E se chego
Choro meu grito desafinado das ruas
Exponho minhas artérias feridas nuas
Para olhos e ouvidos
De ninguém.